Artes Marciais

Seus aspectos complexos (ou nem tanto)

Por Bruno Ribeiro

Se você pratica uma arte marcial que tem regras, você está praticando um esporte.

Farei aqui uma análise de alguns termos usados no mundo das lutas atualmente. Não pretendo ser o guardião da verdade absoluta, mas gostaria de chamar a atenção para esta questão e assim começar a conhecer mais a fundo alguns termos que usamos no dia a dia, muitas vezes de forma incorreta, seja por desconhecimento ou simplesmente por alimentar nosso próprio ego

Aqui analiso a etimologia do termo “Arte Marcial” e exploro os aspectos que são praticados atualmente, traçando um paralelo entre defesa pessoal e esportes de combate.

Definições

Muitas pessoas acabam confundindo o conceito de Arte Marcial com qualquer prática de sistema de combate. Não é intenção deste artigo rotular as diferentes atividades como pertencentes ou não a esta definição. Todos poderão analisar se sua prática possui ou não os elementos mínimos necessários para pertencer a este grupo.

Por experiência percebi que muito mais importante do que a modalidade ou o nome da prática é o professor responsável pelo grupo. O conhecimento que ele tem e como ele o expõe fará diferença na compreensão e no entendimento de seus alunos sobre o que está sendo feito.

Vou tentar sintetizar as diferenças entre eles de forma prática e direta.

Esportes vs. Arte

Pessoalmente, acredito que qualquer “arte marcial” que esteja ligada a um regulamento torna-se um esporte.

O dicionário Oxford define a palavra “esporte” como uma prática metódica, ou seja, uma prática que possui métodos, procedimentos, técnicas, organização, REGRAS.

Se olharmos para o MMA, que hoje talvez seja o esporte que mais se aproxima de uma luta real, onde os praticantes são muitas vezes referidos como os gladiadores da era moderna, existem regras que permeiam os praticantes.

Em qualquer competição, seja ela de karatê, jiu jitsu, muay thai, taekwondo ou qualquer outra, eles têm suas regras diferentes, oferecendo diferentes níveis de segurança aos competidores, com ou sem equipamentos de proteção, mais ou menos controle, técnicas permitidas e outras proibidas , etc, mas sempre existem regras que protegem em algum nível, a integridade física do atleta.

Quando deixamos de lado essas competições e seus regulamentos, entramos no que podemos chamar de Arte Marcial.

Chamadas de Wushu na China e Bujutsu no Japão, as artes marciais têm seus primeiros registros de surgimento por volta de 3000 a.C. como no caso do indiano Malla-Yuddha, ou em 2697 aC para o Shuai-Jiao na China; ambos eram uma espécie de luta livre.

India, Uttar Pradesh, 5th century Sculpture Terracotta 10 x 14 1/2 x 4 1/2 in. (25.4 x 36.83 x 11.43 cm) Gift of Neil Kreitman (M.88.133.2) South and Southeast Asian Art

Desde então, as artes marciais vêm atravessando milênios e foram decisivas na formação da história da humanidade.

A etimologia da palavra “marcial” é entendida em sua origem como uma referência ao “deus Marte”, que por sua vez, segundo aquela cultura, era o deus da guerra.

Então podemos concluir que as artes marciais são um conjunto de técnicas destinadas à guerra, que servem para impor culturas, domínios da terra ou defesa de interesses próprios, muito diferente de um esporte, certo? Portanto, nas artes marciais o bem-estar do oponente não é algo importante e elas são praticadas com base apenas em normas morais e éticas que podem ser diferentes entre os contendores, exceto em sua intenção de vencer.

Ao longo dos anos, diferentes estilos e aspectos das artes marciais se desenvolveram e persistiram, enquanto outros se perderam na história.

Muitos deles se concentravam em certos aspectos do combate, desde luta com armas até técnicas de percussão, clinch, arremesso e controle de solo. Outro fator que caracteriza as artes marciais é a incorporação cultural daquelas características mais distintivas do país ou região de origem, uso de vestimentas específicas, nomenclatura técnica, rituais prévios (meditação), etc.

Defesa pessoal

Em qualquer sistema do que chamamos de defesa pessoal, o foco está na eficácia das técnicas, deixando de lado boa parte da filosofia, cultura e costumes do local de origem da arte praticada.

Vale ressaltar que todos os esportes de luta funcionam em alguma medida como defesa pessoal, mas a mentalidade envolvida deve mudar completamente, pois como já descrito, a integridade física do agressor não é mais um fator atenuante, na maioria dos casos.

Também é importante ressaltar que quando falamos em legítima defesa, como o próprio nome já diz, é algo que vai funcionar de acordo com a sua realidade, suas habilidades, suas capacidades volitivas, seu biotipo.

Então, se a pessoa for idosa ou tiver alguma limitação física, será importante ter métodos e estratégias que se adequem a ela.

Outro ponto relevante a ser considerado no ensino da defesa pessoal é o contexto social em que se encontra inserido; por exemplo: um civil não precisa aprender técnicas de prisão e algemas típicas de um policial, e um campesino provavelmente não precisa aprender estratégias defensivas contra ocorrências de sequestro, as táticas e estratégias ensinadas terão que ser diferentes de acordo com o região e os tipos de crimes mais comuns.

Podemos concluir que tanto o esporte de combate quanto a defesa pessoal tiveram origem nas artes marciais e então cada um seguiu um caminho diferente.

No campo esportivo, alguns nomes foram trocados, se tornando mais clara a separação da arte marcial do esporte, como aconteceu com o Muay Thai, que passou a ser a vertente esportiva do Muay Boran, outros ainda causam certa confusão em sua prática, como é o caso do karatê, que é esportivo ou marcial, ainda é muito difundido sob o mesmo nome.

Já no âmbito da autodefesa o cuidado deve vir justamente do fato de que muitos mestres dos esportes de combate estão migrando para esta área e vendendo conceitos completamente distorcidos da realidade entregando técnicas que só funcionam com seu permissivo “agressor” em cima do tatame.

Autor

Brunno Ribeiro sensei é o representante da AKKKA no Brasil. Seu Dojo está localizado em Linhares, Espírito Santo e de lá divulga o Goju Ryu Jundokan que aprende diretamente com seu Mestre e referência técnica, Pablo Scurzi.